Perpétuo Socorro, de nossa perpétua miséria

“Apareceu no céu um grande sinal” (Ap 12,1). Sinal esse que apareceu posteriormente nas mãos dos Missionários Redentoristas, custódios do Ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Eis a mulher vestida de sol, tendo a lua sob seus pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas. Celebrar Maria, como nosso Perpétuo Socorro, como auxílio que Deus concedeu em nosso benefício é alegrar-se e rejubilar pela felicidade de se ter uma mãe. Esse é um título que enche nosso coração de esperança e o faz transbordar de confiança. A ternura da mãe com o Filho, representada no Ícone, gera em nós devoção.

Contemplar o Perpétuo Socorro é expressão de fé, é ver mais do que simplesmente a Mãe e o Menino, é contemplar cada elemento que compõe o Ícone. Ela é o Perpétuo Socorro, de nossa perpétua miséria! É porque somos ainda frágeis, que ela perpetua seu socorro. Maria é o paradigma antropológico realizado, ela experimentou as mazelas humanas, sendo criatura conheceu o labor da vida. Nós somos o que Maria foi, e ela já é o que nós seremos um dia! Nossa identificação com a Virgem dá-se devido ela ter sido a pessoa humana mais próxima da Trindade, com isso ela tornou-se arquétipo das realidades escatológicas, o sinal de nossas possibilidades futuras. Maria foi aquela que mais se aproximou de nosso “objeto” de desejo: Deus! Os Evangelhos atestam que Jesus começou e terminou sua vida nos braços de Maria; começou na gruta de Belém e a encerrou quando o desceram da cruz e depositaram Seu corpo nos braços de Sua dolorosa mãe.

Um Ícone não é pintado e sim escrito, ele é único, irreproduzível. Diante de nós está um clássico Ícone da Odigítria (a Condutora), representada pela Virgem que tem no braço esquerdo seu Filho. Essa imagem é repleta de simbologia. Seu braço direito aponta para o Menino, deixando perceber três dedos – recordando a Santíssima Trindade – seus traços delicados; olhos grandes de observadora, ouvidos discretos de mulher (judia) da escuta; boca pequena, para pronunciar apenas uma única palavra: Deus! Suas diversas cores traduzem muitos elementos do sagrado. De todo o conjunto da obra destaco os olhos, misteriosos, penetrantes, que gera alívio aos sofredores e arrependimento aos pecadores, pois parecem eles enxergar o íntimo de quem se põe diante do Ícone.

O homem se torna aquilo que contempla, ao nos depararmos diante do Ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e contemplá-lo, nos tornaremos fidelíssimos como foi Maria. Nossa Senhora não é centro de nossa fé, mas ela é como a mão que aponta para o Menino Deus, que indica a Quem devemos seguir. Se observarmos bem, veremos que a centralidade do Ícone é o Menino Jesus, todo o conjunto das cores e a disposição dos personagens convergem para Ele. Em Maria tudo remete a Cristo e dele depende, não quer a Mãe ser superior ao Filho, mas deseja ela que O conheçamos como ela O conheceu.

O Padre Antônio Vieira, em um de seus Sermões, descreveu de modo belíssimo o significado dos diversos títulos marianos, este excerto intitulado: Sermão do Nascimento da Mãe de Deus, nos ajuda compreender o quão profundo é invocar Maria sob os mais diversos títulos:

“Quereis saber quão feliz, quão alto é e quão digno de ser festejado o Nascimento de Maria? Vede para que nasceu… Nasceu para que d’Ela nascesse Deus… Perguntai aos enfermos para que nasce esta celestial Menina, dirão que nasce para Senhora da Saúde; Perguntai aos pobres, dirão que nasce para Senhora dos Remédios; Perguntai aos desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo; Perguntai aos desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação; Perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; Perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança. Os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz; os discordes, para Senhora da Paz; os desencaminhados, para Senhora da Guia; os cativos, para Senhora do Livramento; os temerosos da sua fortuna, para ser Senhora do Bom Sucesso; os desconfiados da vida, para ser Senhora da Boa Morte; os pecadores todos, para ser Senhora da Graça; E todos os seus devotos, para Senhora da Glória. E se todas estas vozes se unirem em uma só voz, dirão que nasce para ser Maria e Mãe de Jesus.”

O apelo que outrora fora feito aos Missionários Redentoristas pelo Papa Pio IX: “Façam-na conhecida no mundo inteiro”, hoje é estendido a todos os fiéis devotos, na certeza de que diante de nossos olhos está o Perpétuo Socorro, de nossa perpétua miséria!

Ir. André Luiz Oliveira – CSsR
Missionário Redentorista, associado da Academia Marial

Fonte: http://www.a12.com/academia/artigos/perpetuo-socorro-de-nossa-perpetua-miseria